segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Prudência e canja de galinha...

"Prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém", dizem os antigos.
Marcinha foi ensinada pelos pais a atravessar a rua somente na faixa de pedestres e com o sinal vermelho para os veículos.
Marcinha sabe que tal procedimento é o correto e também previsto em lei, ela sabe que atravessar fora da faixa, ou com o sinal verde para os veículos, poderá trazer sérios problemas pra ela, por isso ela mantém viva em sua mente a instrução dos pais.
Ora, a vovó de Marcinha, detentora de toda sabedoria, a chamou para se sentar próxima dela e disse, "minha filha, preste atenção... Mesmo estando na faixa de pedestres e com o sinal vermelho para os carros, olhe os dois lados antes de atravessar, certifique de que os carros realmente pararam...".
Marcinha replicou, "mas vó, não precisa, é lei e eles precisam respeitar, precisam parar! Se eles atravessarem e causarem acidentes terão que pagar por isso."
"Eu sei, minha filha. Eles têm que parar, mas caso algum não pare quem vai se foder toda será você, pois a culpa sempre será do criminoso, mas as consequências estarão contigo..."
Marcinha entendeu o que sua vovó disse, que embora haja leis bem definidas e que punem os que
cometem crimes, ser prudente nunca é demais.
"Outra coisa, minha filha...", disse a avó.
"Fale, vó... Tô ouvindo!", respondeu Marcinha.
"Evite voltar muito tarde e sozinha por essas ruas desertas, é perigoso... Coloque uma roupa bonita, não precisa ser vulgar, chame atenção por sua personalidade e não por causa de seu corpo. Muito cuidado. Vovó te ama!", concluiu a vovó de Marcinha.
"Ah, sim, vó... Obrigada pela preocupação, eu também te amo!", respondeu Marcinha.
Muito bem, Marcinha... Que bom que você entendeu que prudência e canja de galinha realmente não fazem mal a ninguém, é bom que você esteja ciente que a culpa de um crime jamais é da vítima, mas que o resultado obtido pode sim ter a contribuição da própria vítima, que ignorando a prudência, carregará para sempre as consequências do crime que sofreu...

A Caverna

"Imagine uma caverna...
Dentro dela as pessoas estão acorrentadas e imobilizadas de costas para a entrada, sem ao menos

poder mexer a cabeça para olhar para os lados, a única visão possível é a parede de fundo da caverna.
Na entrada da caverna há uma fogueira e tudo que passa à sua frente projeta sombras na parede de fundo da caverna e essas sombras são tudo que os acorrentados vêem.
Com o tempo eles passam a dar nome ao que vêem, torcem por esta ou aquela sombra, conversam a respeito delas, criam seu mundo baseado naquilo que é projetado na parede.
O tempo passa e um homem se esforça para se libertar daqueles grilhões e, após grande esforço, rompe as correntes.
Ele olha em volta e vê a entrada da caverna. Ele caminha em direção a esta entrada, mesmo com os demais o aconselhando a voltar para onde ele estava.
Ele se aproximou da entrada e observou a fogueira, mas os raios de sol eram demais pra ele, aquela luminosidade era intensa e não lhe permitia ver nada direito, então ele saiu da caverna, mas olhava pra baixo, seus olhos eram sensíveis demais pra aquilo.
Caminhando com as mãos protegendo os olhos, e percorrendo seu olhar para o chão ele viu novas
sombras.
Ao se deparar com um lago ele olhou e viu seu reflexo, ficou deveras extasiado, pois jamais tinha visto a si mesmo.
A noite chegou, e com ela a tão familiar escuridão. Todavia ele jamais havia contemplado aquele tipo de escuridão, pois havia uma certa iluminação no ambiente.
Ele arriscou olhar pro alto e viu a lua. Aquilo era demais, muito lindo! Ele viu as plantas, as árvores e alguns animais sob a luz daquele luar estonteante, e ficou muito feliz.
Com o tempo ele se acostumou com o dia, contemplou o sol em todo seu fulgor, maravilhou-se com o esplendor da natureza e sentiu uma vida que por muito tempo lhe fora negada...
Após aquele mundo de coisas novas e maravilhosas, após uma expansão exponencial de seu conhecimento, ele decidiu voltar para a caverna e contar as boas novas aos outros.
Entretanto, ao chegar na caverna, ele se sentiu um pouco estranho. Não podia acreditar que aquilo era o mundo que ele conhecia, sentiu-se mal por um dia aceitar aquele local primitivo como "o mundo em que vivemos".
Porém ao encontrar os outros e começar a falar das maravilhas que explorou fora da caverna, as pessoas começaram a chamá-lo de louco, insano, duvidaram de suas faculdades mentais e de sua percepção cognitiva, puseram em xeque seus conhecimentos.
Ele tentou argumentar, tentou mostrar às pessoas que aquilo que elas viam no fundo da parede não passavam de sombras, demonstrou pra elas que não eram as coisas reais, até fez algumas sombras pra elas verem, mas de nada adiantou, muito pelo contrário, elas o repudiaram, o odiaram, elas se sentiram ofendidas, pois o conhecimento dele tornava tudo que elas sabiam em nada, reduziu ao ridículo o que elas entendiam por mundo.
Não houve jeito, hostilizado, ele teve que se retirar, não poderia viver ali, ele sabia que não havia como retornar àquela vida medíocre, não depois de adquirir tanto conhecimento."
Esta pequena ilustração é uma adaptação do mito da caverna, de Platão, que tentou explicar a visão de mundo através desta parábola.
Platão acreditava que todos, desde o primeiro dia de vida, contemplam um mundo que não passa de sombras projetadas por alguém, por algum dogma, por alguma tradição.
Como prisioneiros acorrentados, sem pensar fora do coletivo idiotizado, somos levados a formar nossas crenças e percepções segundo a opinião de terceiros, somos frutos de opiniões de segunda mão.
O homem que sai da caverna é aquele que ousa pensar, quando digo pensar, digo refletir sobre as coisas de forma mais profunda e não por meio de explicações simplistas e rasas, que a sociedade, a religião, o status quo, as tradições e demais fundamentos sociais costumam apresentar para nós.
Quem se dá ao trabalho de pensar, assim como o homem que saiu da caverna, deve estar preparado para o rechaço daqueles que permanecem prisioneiros.
A ojeriza, o repúdio, o ódio, enfim, tudo isso se manifesta por quem pensa diferente. As pessoas temem e odeiam o que não entendem.
"O prego que destaca é o primeiro a levar martelada", diz o ditado.
Mas e você? Será que é um livre pensador? Ou ainda está em alguma caverna, que pode ser a religião, a mídia, o status quo, as imposições sociais, etc.
Muitos nascem e morrem sem jamais sairem da caverna, muitos tentam sair, mas a luz do sol os intimida e eles retornam.
Pouquíssimos são os que conseguem enfrentar o desconhecido, sair da caverna e ter uma visão completa das coisas.
Diga-me, onde está você?...