sábado, 7 de maio de 2016

Da série "política na rede": O fracasso retumbante da república no Brasil.

República origina-se do latim, "res publica" ou "coisa pública", que no papel significa governo do interesse de todos, onde o povo exerce a soberania, por intermédio dos políticos por ele eleitos, por um determinado período de tempo.

A descrição de república soa tão democrática e amistosa, que sua propaganda se torna quase imbatível, e vem enganando os brasileiros há mais de século.

Infelizmente, como muita coisa em nossa história, a proclamação da república foi mais um fiasco em termos de diplomacia, seriedade, patriotismo e comprometimento. Seu estabelecimento em nosso país nasceu de um golpe de estado, que foi arquitetado por uma minoria escravagista e elitista. Sim, fazendeiros aliados a figuras gananciosas, e proeminentes da sociedade da época (Benjamin Constant, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, entre outros), ardilosamente induziram Marechal Deodoro da Fonseca a confrontar e destituir o império.

Entretanto, o que poucos sabem, é que o marechal não cavalgou pelo Campo do Santana bradando pela república, ele bradou pelo imperador: "Viva Sua Majestade, o Imperador!".

A luta de Deodoro jamais foi contra a coroa, mas pela mudança do gabinete do império, pela derrubada de Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde do Ouro Preto, com quem o marechal e alguns militares nutriam desavenças.

Porém os conspiradores, que já contavam com a insatisfação de poderosos da elite por conta do fim da escravatura, e aproveitando uma instabilidade política, incitaram o marechal de forma diabólica e cruel. Eles foram até Deodoro e informaram que o imperador, com quem ele possuía amizade, iria nomear Gaspar da Silveira Martins, inimigo mortal do marechal (por causa do amor de uma mulher), como sucessor do Visconde de Ouro Preto, ou seja, como primeiro ministro, e que este havia expedido pedido de prisão de Deodoro.

Ironicamente o imperador Dom Pedro II já decretava a demissão do Visconde de Ouro Preto para reformar o Ministério, por isso os conspiradores precisavam agir rápido, e aproveitaram essa intenção do imperador e mentiram para o marechal dizendo que seu rival assumiria o cargo.

Isso foi demais para marechal Deodoro, que tomado por uma ira impetuosa, e usando de sua liderança e autoridade, acabou por derrubar a monarquia e o império. A família real, acuada, exilou para sua terra natal. Foi o maior exílio de nossa história.

Em sua melancólica despedida, o imperador Dom Pedro II, dilacerado pela traição de seu amigo e pelo esquema minuciosamente armado pelos conspiradores do império, não aceitou a oferta de dinheiro dada por Deodoro para sair do país, pediu apenas um travesseiro com terra do Brasil, para que deitasse sobre ele quando fosse morrer.

Desta forma o marechal Deodoro da Fonseca e os conspiradores estabeleceram a República Federativa Presidencialista, sendo ele o presidente e chefe do Governo Provisório, tendo como vice-presidente o marechal Floriano Peixoto e como ministros Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa,Campos Sales, Aristides Lobo, Demétrio Ribeiro e o almirante Eduardo Wandenkolk.

O povo em si não tinha nada contra a monarquia, pelo contrário, a princesa Isabel acabara de assinar a Lei Áurea, o que mudou radicalmente a visão de sociedade da época, e isso foi o estopim para que os magnatas escravagistas tramassem contra a coroa.

Enfim, o próprio marechal Deodoro da Fonseca governou por pouco mais de um ano e renunciou, tamanha era a convulsão e brigas políticas pelo poder, que incluía aí o totalitarismo do marechal, interesse dos fazendeiros, arranjos políticos, o fechamento do Congresso e ameaças de guerra civil.

Este foi o nascedouro de nossa república, que surgiu de um estratagema ardiloso, um golpe de estado, que aliás de tempo em tempo voltou a acontecer durante sua fatídica história.

"... não te metas em coisas republicanas, porque no Brasil república e desgraça completa são a mesma coisa...", disse um arrependido (e tomado por remorso) marechal Deodoro da Fonseca, em um trecho de uma carta endereçada ao seu sobrinho, Clodoaldo da Fonseca.

Tarde demais, marechal, tarde demais...